
O consumo excessivo de álcool leva à destruição lenta e progressiva do pâncreas
ma das doenças do aparelho digestivo mais graves é a pancreatite, causada pela inflamação do pâncreas. Esse órgão, situado na parte superior do abdome, tem como função a produção da insulina responsável pelo controle dos níveis de açúcar no organismo e também pela produção das enzimas digestivas - substâncias necessárias para a digestão dos alimentos. Segundo relatório do IDB-2006 (Indicadores e Dados Básicos da Saúde), feito pelo Ministério da Saúde, cerca de 15% das internações de adultos entre 30 e 59 anos no Brasil foram causadas por doenças do aparelho digestivo, sendo a pancreatite a mais grave delas - que vem fazendo cada vez mais vítimas -, e pode levar até a morte.
Existem dois tipos de pancreatite: a aguda e a crônica. A pancreatite aguda ocorre de forma súbita, dura um período limitado de tempo e, na maioria das vezes, é resolvida com tratamento clínico. Mas existem as formas graves da doença que ocasionam desidratação e choque, assim como insuficiência cardíaca, pulmonar ou renal. "As formas mais graves podem apresentar necrose e sangramento do pâncreas podendo levar o paciente à morte", salienta o gastroenterologista e pesquisador da USP, André Siqueira Matheus. É o caso do ator Irving São Paulo, que morreu em 2006, aos 41 anos, vítima de uma pancreatite necro-hemorrágica.
Já a pancreatite crônica está, muitas vezes, associada ao uso prolongado de bebidas alcoólicas e leva à perda progressiva da função pancreática e intensa dor abdominal. Portador de pancreatite crônica em função do abuso de álcool, o cantor Raul Seixas morreu em 1989 de parada cardíaca causada pela doença.
A principal causa de pancreatite aguda no Brasil se deve à presença de cálculos na vesícula biliar. Para entender a relação dos cálculos da vesícula com a ocorrência da pancreatite, Matheus explica sobre a anatomia e funcionamento desta região. "A comunicação do fígado e da vesícula biliar com o intestino se faz através de um pequeno canal que é responsável por levar a bile para o interior do intestino. O final deste pequeno canal é comum com o ducto pancreático, formando assim um único canal. A obstrução deste canal comum, causada pela migração dos cálculos da vesícula, é responsável pelo aparecimento da pancreatite".
O sintoma mais comum da pancreatite aguda é uma dor muito forte no abdome, seguida por náuseas e vômitos. No caso da pancreatite crônica, o problema é causado principalmente pelo uso excessivo de álcool e está, na maioria das vezes, associada a outras doenças como diabetes, desnutrição e alcoolismo. A destruição lenta e progressiva do pâncreas resulta na perda da capacidade de produzir a insulina e as enzimas pancreáticas, causando desta forma o aparecimento da diabetes e da desnutrição.
A maioria das pessoas apresenta dor abdominal, podendo se agravar com a alimentação ou ingestão de líquidos e principalmente com a ingestão de bebidas alcoólicas.
Tratamento - Para o tratamento da pancreatite aguda é necessária a hospitalização. Segundo o pesquisador, se confirmada a presença de cálculos na vesícula biliar, o paciente deve ser submetido à cirurgia para retirada dos cálculos, não expondo o paciente ao risco de novas crises.
Na pancreatite crônica, o primeiro passo é parar de beber álcool e, na sequência, planejar uma dieta rica em carboidratos e com pouca gordura. De acordo com o médico, enzimas pancreáticas podem ser ingeridas com as refeições, mas a cirurgia, às vezes, é a única solução em casos mais extremos. "As enzimas devem ser tomadas com cada refeição para ajudar o corpo a digerir o alimento e recuperar o estado nutricional. A cirurgia é feita para aliviar a dor, podendo até mesmo ser necessária a remoção de parte do pâncreas."
Em ambos os casos, os sintomas descritos pelo paciente e seu histórico de consumo de álcool serão checados pelo médico. Exames de sangue, ultrassonografia e tomografia do abdome são usados para a confirmação da doença. Mas o melhor jeito de prevenir a pancreatite é ficar sempre atento para a presença de cálculos na vesícula e diminuir o uso da bebida alcoólica.
Para o gastroenterologista, os hábitos saudáveis, como baixa ingestão de bebida alcoólica e alimentação com baixa quantidade de gordura, são medidas importantes para se evitar uma série de doenças - e não apenas do aparelho digestivo. "Os jovens que hoje abusam da bebida e se alimentam mal vão sentir as conseqüências mais tarde e serão os pacientes de amanhã", alerta o médico.
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